Eu te amo como um colibri resistente
Incansável beija-flor
que sou
Batedora renitente
de asas
Viciada no
mel que me dás
depois que atravesso o deserto
Pingas na
minha boca umas gotas poucas
Do que nem é
uma vacina.
Eu uma
mulher, uma ave, uma menina...
Assim
chacinas o meu tempo de eremita:
Quebras a
bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias
As que
vestiram meus pés
Quando caminhei
as areias.
Eu te amo
como quem esquece tudo
Diante de um
beijo:
As inúmeras
horas desbeijadas
Os terríveis desabraços
Os dolorosos
desencaixes
Que meu corpo
sofreu longe do seu.
Elejo sempre
o encontro
Ele é o ponto
do crochê.
Penélope
invertida
Nada começo
de novo
Nada desmancho
Nada volto
Teço um novo
tecido de amor eterno
A cada olhar
seu de afeto
Não ligo para
nada que doeu.
Só para o que
deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
Pesco os
peixes dos nossos encaixes
Pesco as
gozadas
As confissões
de amor
As palavras
fundas de prazer
As esculturas
astecas que nos fixam
Na historia
dos dias
Eu te amo.
De todos os
nossos montes
Fico com as
encostas
De todas as
nossas indagações
Fico com as
respostas
De todas as
nossas destilarias
Fico com as
alegrias
De todos os
nossos natais
Fico com as
bonecas
De todos os
nossos cardumes
As moquecas.
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