domingo, 21 de novembro de 2010

Fragmentos de Clarice Lispector - Água Viva

Clarice certa vez disse: Eu não escrevo o que quero, escrevo o que sou. E realmente Clarice deixa vestígios do seu ser nas entrelinhas do que escreve, como neste trecho:

"Nasci dura, heróica, solitária e em pé. E encontrei meu contraponto na paisagem sem pitoresco e sem beleza. A feiúra é o meu estandarte de guerra. Eu amo o feio com um amor de igual para igual. E desafio a morte. Eu - eu sou a minha própria morte. E ninguém vai mais longe. O que há de bárbaro em mim procura o bárbaro e cruel fora de mim. Vejo em claros e escuros os rostos das pessoas que vacilam às chamas da fogueira. Sou uma árvore que arde com duro prazer. Só uma doçura me possui: a conivência com o mundo. Eu amo a minha cruz, a que doloridamente carrego. É o mínimo que posso fazer de minha vida: aceitar comiseravelmente o sacrifício da noite."

Fragmento do livro Água Viva, Clarice Lispector, Editora Rocco, 1998. O lançamento do livro é de 1973 pela Artenova.

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